O frágil pertencimento e os fortes deveres do clero estrangeiro

O Concílio de Trento e a regulamentação multinível da migração de eclesiásticos seculares para o Brasil imperial

Autores

  • Anna Clara Lehmann Martins Max Planck Institute for Legal History and Legal Theory Autor/a

DOI:

https://doi.org/10.23927/issn.2526-1347.RIHGB.2023(491):195-238

Palavras-chave:

migração, clero, Concílio de Trento, Santa Sé, Império do Brasil, Conselho de Estado

Resumo

Por conta do jurisdicionalismo herdado de Portugal e pela força da ideia tipicamente liberal de defesa da soberania, o Império do Brasil inicialmente adotou como linha de ação proibir que sacerdotes estrangeiros assumissem benefício eclesiástico em seu território. Este artigo concentra-se sobre as transformações jurídicas que, tomando lugar na segunda metade do século XIX, obrigaram a uma relativização dessa proibição, sobretudo em face da migração massiva de sacerdotes europeus às Américas nesse período. Analisando casos concretos apresenta- dos por bispos e clérigos ao Conselho de Estado, órgão consultivo do imperador, e à Congregação do Concílio, órgão administrativo da Santa Sé, espero mostrar como se abriu caminho para a regulamentação multinível dos fluxos migratórios do clero secular para o Brasil. Como o Concílio de Trento era uma normatividade chave para ordenar as movimentações do clero em todo o globo, examino como instituições e atores que ordinariamente o manejavam, forjaram novas interpretações e novas normas a fim de disciplinar a migração enquanto fenômeno sem precedentes. Acompanhar as transformações do Tridentino permitirá entrever quão precária era a situação do sacerdote estrangeiro em termos de pertencimento a um novo país e a uma nova diocese; e revelará, enfim, que a âncora a minimamente firmar o clérigo migrante no mar de incertezas jurídicas do fim do século XIX eram noções de dever.

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Biografia do Autor

  • Anna Clara Lehmann Martins, Max Planck Institute for Legal History and Legal Theory

    Pesquisadora do Departamento “Historical Regimes of Normativity” no Max Planck Institute for Legal History and Legal Theory, em Frankfurt am Main, Alemanha, atuando nos projetos: “Normative knowledge in the praxis of the Congregation of the Council. The production of normative categories and models for the post-Tridentine world”, liderado por Benedetta Albani, e “The Holy See and the migration of priests between Europe and the Americas (19th-20th centuries). Crafting normative knowledge to govern a new phenomenon”, projeto pessoal de pós-doutorado. Doutora em Direito pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e em História Moderna e Contemporânea pela Wes-
    tfälische Wilhelms-Universität Münster, Alemanha, em regime de cotutela. Integrante do Grupo de Pesquisa em História da Cultura Jurídica - Studium Iuris (UFMG/CNPq).

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Publicado

2023-11-04

Edição

Seção

Artigos

Como Citar

MARTINS, Anna Clara Lehmann. O frágil pertencimento e os fortes deveres do clero estrangeiro: O Concílio de Trento e a regulamentação multinível da migração de eclesiásticos seculares para o Brasil imperial. Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, Rio de Janeiro, v. 184, n. 491, p. 195–238, 2023. DOI: 10.23927/issn.2526-1347.RIHGB.2023(491):195-238. Disponível em: https://rihgb.emnuvens.com.br/revista/article/view/10.. Acesso em: 22 maio. 2025.