Ciência, poder e império: a Casa Literária do Arco do Cego e os projetos de D. Rodrigo de Sousa Coutinho para o Brasil (1796-1803)
DOI:
https://doi.org/10.23927/revihgb.v.186.n.497.2025.170Palavras-chave:
D. Rodrigo de Sousa Coutinho, Casa Literária do Arco do Cego, império colonial, reformas ilustradas, história natural, economia políticaResumo
Na visão do império construída por D. Rodrigo de Sousa Coutinho, a ciência ocupava lugar de eleição. As publicações produzidas pela Casa Literária do Arco do Cego (entre 1799 e 1801), com o apoio de Frei Mariano da Conceição Veloso e de outros naturalistas, tradutores e gravadores nascidos no Brasil, oferecem testemunho ímpar dessa preocupação centrada na difusão do conhecimento científico e na demonstração da sua utilidade prática. O lema da Casa Literária era "sem livros não há instrução", sendo o seu propósito primordial o de mostrar que a ciência era fundamental para promover uma adequada utilização dos recursos naturais. Os títulos publicados pela Casa Literária do Arco do Cego servem como pretexto motivador deste texto, no qual procurarei demonstrar que o fascínio de D. Rodrigo de Sousa Coutinho pela ciência era, afinal, um meio para conceber a reforma ilustrada do império.
Downloads
Referências
Adelman, Jeremy, 2006. Sovereignty and Revolution in the Iberian Atlantic. Princeton: Princeton University Press.
Antonil, André João, 1800. Extrato sobre os engenhos de açúcar do Brasil, e sobre o método já então praticado na fatura deste sal essencial, tirado da obra Riqueza e Opulência do Brasil, para se combinar com os novos métodos, que agora se propõem. Lisboa: Tipografia Calcográfica e Literária do Arco do Cego.
Azevedo, Dannylo de, 2017. Ecos da economia política nos prefácios do Fazendeiro do Brasil, Revista Angelus Novus, USP, Ano VIII, nº 13, 169-189.
Bohórquez, Jesús, 2014. Luces para la Economía. Libros y discursos de economia política en el Atlántico español durante la era de las revoluciones (Nueva Granada, 1780-1811). Bogotá: ICANH.
Boschi, Caio Cesar, 2006. Política e edição: os naturais do Brasil nas reformistas oficinas do Arco do Cego. In Dutra, Eliana, e Mollier, Jean-Yves (org.), Política, Nação e Edição: o lugar dos impressos na construção da vida política. Brasil, Europa e Américas nos séculos XVIII-XX. São Paulo: Annablume, 495-510.
Campos, Maria Fernanda et. al. (ed.), 1999. A Casa Literária do Arco do Cego. Bicentenário. Lisboa: Biblioteca Nacional e Imprensa Nacional – Casa da Moeda.
Cardoso, José Luís, 2001. Nas malhas do império: a economia política e a política colonial de D. Rodrigo de Sousa Coutinho. In José Luís Cardoso (ed.), A Economia Política e os Dilemas do Império Luso-Brasileiro (1790-1822). Lisboa: Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses, 65-109.
Cardoso, José Luís, 2019. D. Rodrigo de Sousa Coutinho em Turim: cultura económica e formação política de um diplomata ilustrado. In: Mota, Isabel F. e Spantigati, C. E. (eds.), Tanto ella assume novitate al fianco: Lisboa, Turim e o intercâmbio cultural do século das luzes à Europa pós-napoleónica, Coimbra: Imprensa da Universidade, 19-48.
Cardoso, José Luís e Cunha, Alexandre Mendes, 2012. Enlightened reforms and economic discourse in the Portuguese-Brazilian Empire (1750-1808). History of Political Economy, 44:4, 619-641.
Carolino, Luís Miguel, 2013. O poder dos livros. A biblioteca de Rodrigo de Sousa Coutinho. Revista do Instituto Histórico-Geográfico Brasileiro, a. 174 (460), 109-140.
Carolino, Luís Miguel, 2014. Dom Rodrigo de Sousa Coutinho, a ciência e a construção do império luso-brasileiro: a arqueologia de um programa científico. In: Gesteira, Heloisa Meireles, Carolino, Luís Miguel, e Marinho, Pedro (orgs.), Formas de Império: Ciência, Tecnologia e Política em Portugal e no Brasil. Séculos XVI ao XIX. São Paulo: Paz e Terra, 191-221.
Considerações cândidas e imparciais sobre a natureza do comércio do açúcar, e importância comparativa das ilhas britânicas, e fazendas das índias ocidentais, nas quais se estabelece o valor, e consequências das ilhas de Santa Luzia e Granada, 1800. Lisboa: Oficina da Casa Literária do Arco do Cego (trad. António Carlos Ribeiro de Andrade).
Coutinho, D. Rodrigo de Sousa, 1797. Memória sobre o melhoramento dos domínios de Sua Majestade na América. In: Textos Políticos, Económicos e Financeiros (1783-1811). Lisboa: Banco de Portugal, 1993, Vol. II, 47-66 (org. Andrée Diniz Silva).
Costa Júnior, Flávio Pereira, 2016. Um Maranhão ilustrado? História e natureza na correspondência entre D. Rodrigo de Sousa Coutinho e D. Diogo de Sousa (1798-1801). São Luís MA: Universidade Federal do Maranhão, dissertação mimeo.
Cultura Americana que contém uma relação do terreno, clima, produção, e agricultura das colónias britânicas no norte da América, e nas índias ocidentais, com observações sobre as vantagens e desvantagens de se estabelecer nelas (…), 1799. Lisboa: Oficina de António Rodrigues Galhardo (trad. José Feliciano Pinheiro).
Curto, Diogo Ramada, 1999. D. Rodrigo de Souza Coutinho e a Casa Literária do Arco do Cego. In: Campos, Maria Fernanda et. al. (ed.), A Casa Literária do Arco do Cego. Bicentenário. Lisboa: Biblioteca Nacional e Imprensa Nacional – Casa da Moeda, 15-49.
DeNipoti, Cláudio e Pereira, Magnus Roberto de Mello, 2013. Sobre livros e dedicatórias: D. João e a Casa Literária do Arco do Cego (1799-1801). História Unisinos, V. 17, 257-271.
Discursos Apresentados à Mesa da Agricultura sobre vários objetos relativos à cultura, e melhoramento interno do Reino, 1800. Lisboa: Tipografia Calcográfica e Literária do Arco do Cego (trad. José Feliciano Pinheiro).
Domingos, Manuela, 1999. Mecenato político e economia da edição nas Oficinas do Arco do Cego. In: Campos, Maria Fernanda et. al. (ed.), 1999. A Casa Literária do Arco do Cego. Bicentenário. Lisboa: Biblioteca Nacional e Imprensa Nacional – Casa da Moeda, 91-106.
Doyle, Henry, 1800. Tratado sobre a cultura, uso, e utilidade das batatas, ou papas 'solanum tuberosum', e instrução para a sua melhor propagação. Lisboa: Tipografia Calcográfica e Literária do Arco do Cego (trad. José Mariano da Conceição Veloso).
Faria, Miguel, 1999. Da facilitação e da ornamentação: a imagem nas edições do Arco do Cego. In: Campos, Maria Fernanda et. al. (ed.), 1999. A Casa Literária do Arco do Cego. Bicentenário. Lisboa: Biblioteca Nacional e Imprensa Nacional – Casa da Moeda, 107-137.
Faria, Miguel Figueira de, 2002. L’influence de l’Encyclopédie sur l’édition illlustré au Portugal: la maison litéraire de l’Arco do Cego (1799-1801). Histoire de l’Art, nº 50, 37-46.
Faria, Miguel Figueira de, 2015. A Flora Fluminense de Frei José Mariano da Conceição Veloso e a génese da Casa Literária do Arco do Cego. In: AA.VV., Homenagem a Justino Mendes de Almeida, Lisboa: ACD Editores, 277-302.
Ferreira, Breno Ferraz Leal, 2019. Conservação da natureza e modernização agrícola nos prefácios de O Fazendeiro do Brasil, de Frei José Mariano da Conceição Veloso (1798-1806). Temporalidades, Edição 29, v. 11:2, 15-30.
Fullton, Robert, 1800. Tratado do melhoramento da navegação por canais, onde se mostram as numerosas vantagens, que se podem tirar dos pequenos canais, e barcos de dous até cinco pés de largo, que contenham duas até cinco toneladas de carga (…). Lisboa: Oficina da Casa Literária do Arco do Cego (trad. António Carlos Ribeiro de Andrade).
Galves, Marcelo Cheche, 2013. Cultura letrada na virada para os oitocentos: livros à venda em São Luís do Maranhão. In: XXVII Simpósio Nacional de História (Natal).
Glick, Thomas, 1991. Science and Independence in Latin America (with special reference to New Granada). The Hispanic American Historical Review, 71:2, 307-334.
Harden, Alessandra Oliveira, 2009, Brasileiro tradutor e/ou traidor: Frei José Mariano da Conceição Veloso. Cadernos de Tradução (Florianópolis), Vol. 1:23, 131-148.
Harden, Alessandra Oliveira, 2011. Os tradutores da Casa do Arco do Cego e a ciência iluminista: a conciliação pelas palavras. Trabalhos em Linguística Aplicada (Campinas), n 50:2, 301-320.
Harden, Alessandra Oliveira, 2018. Translation and Science in the Luso-Brazilian Enlightenment: intertextuality in epigraphs and mottoes. Cadernos de Tradução (Florianópolis), Vol. 38:3, 259-278.
Instituto dos pobres d'Hamburgo, 1801. Lisboa: Tipografia Calcográfica, Tipoplástica e Literária do Arco do Cego (trad. Ildefonso Leopoldo Bayard).
Kury, Lorelai, 2004. Homens de ciência no Brasil: impérios coloniais e circulação de informações (1780-1810). História, Ciências, Saúde – Manguinhos, vol. 11 (supl. 1), 109-129.
Kury, Lorelai, 2015. O naturalista Veloso. Revista de História (São Paulo), nº 172, 243-277.
Leme, Margarida O.R. Pais, 1999. Um breve itinerário editorial: do Arco do Cego à Impressão Régia. In: Campos, Maria Fernanda et. al. (ed.), 1999. A Casa Literária do Arco do Cego. Bicentenário. Lisboa: Biblioteca Nacional e Imprensa Nacional – Casa da Moeda, 77-90.
Luna, Fernando José,2019. La Condamine, Frei Veloso e os fluxos de conhecimento sobre plantas medicinais entre Europa e América no século XVIII. In Pataca, Ermelinda Moutinho e Luna, Fernando José (orgs.), Frei Veloso e a Tipografia do Arco do Cego. São Paulo: EDUSP, 357-373.
Lyra, Maria de Lourdes Viana, 1994. A Utopia do Poderoso Império. Portugal e Brasil: Bastidores da Política, 1798-1822. Rio de Janeiro: Sette Letras.
Malerba, Jurandir, 2020. Brasil em Projetos. História dos Sucessos Políticos e Planos de Melhoramento do Reino. Da Ilustração Portuguesa à Independência do Brasil. Rio de Janeiro: FGV Editora
Matos, Felipe, 2007. A circulação dos livros da Tipografia do Arco do Cego em Nossa Senhora do Desterro (Florianópolis, século XVIII). Anais da VII Jornada Setecentista (Curitiba).
Maxwell, Kenneth, 1973. The Generation of the 1790’s and the idea of the Luso-Brazilian Empire. In: D. Allen (ed.), The Colonial Roots of Modern Brazil. Berkeley: University of California Press, 107-144.
Memória, e extratos sobre a pipereira negra (Piper nigrum L.) que produz o fruto conhecido vulgarmente pelo nome de pimenta da Índia nos quais se trata da sua cultura, comércio, usos, etc., 1798. Lisboa: Oficina de João Procópio Correia da Silva.
Nieto, Mauricio, 2000. Remedios para el Imperio: historia natural y la apropiación del Nuevo Mundo. Bogotá: ICANH.
Nunes, Fátima and Brigola, João, 1999. José Mariano da Conceição Veloso (1742-1811): um frade no Universo da Natureza. In: Campos, Maria Fernanda et. al. (ed.), 1999. A Casa Literária do Arco do Cego. Bicentenário. Lisboa: Biblioteca Nacional e Imprensa Nacional – Casa da Moeda, 51-75.
Paquette, Gabriel B., 2008. Enlightenment, Governance and Reform in Spain and its Empire, 1759-1808. Basingstoke and New York: Palgrave Macmillan.
Pataca, Ermelinda Moutinho, 2019. Frei Veloso viajante. In Pataca, Ermelinda Moutinho e Luna, Fernando José (orgs.), Frei Veloso e a Tipografia do Arco do Cego. São Paulo: EDUSP, 155-186.
Pattullo, Henry, 1801. Ensaio sobre o modo de melhorar as terras. Lisboa: Tipografia Calcográfica, Tipoplástica e Literária do Arco do Cego.
Pereira, Magnus Roberto de Mello, 2014. D. Rodrigo e frei Mariano: a política portuguesa de produção de salitre na virada do século XVIII para o XIX. Topoi (Rio de Janeiro), vol. 15, nº 29, 498-526.
Pereira, Márcio Mota, 2015. A circulação de impressos pragmáticos publicados pela tipografia literária do Arco do Cego na Capitania de Minas Gerais. Estudios Historicos (Uruguai), nº 14, 1-12.
Pombo, Nívia, 2015. Dom Rodrigo de Sousa Coutinho. Pensamento e Ação Político-administrativa no Império Português (1778-1812). São Paulo: Editora Hucitec.
Quinografia portuguesa, ou coleção de várias memórias sobre vinte e duas espécies de quinas, tendentes ao seu descobrimento nos vastos domínios do Brasil, 1799. Lisboa: Oficina de João Procópio Correia da Silva.
Raminelli, Ronald, 2008. Viagens Ultramarinas. Monarcas, vassalos e governo a distância. São Paulo: Alameda.
Ramos, Margarida Ortigão, 2000. A Oficina do Arco do Cego e a sua memória na Impressão Régia. Revista Portuguesa de História do Livro, ano III, nº 7, 49-86.
Ramos (Paes Leme), Margarida Ortigão, 2019. A Livraria do Padre Veloso e o Plano Editorial da Arco do Cego. In Pataca, Ermelinda Moutinho e Luna, Fernando José (orgs.), Frei Veloso e a Tipografia do Arco do Cego. São Paulo: EDUSP, 281-291.
Safier, Neil, 2019. Itinerários do Conhecimento. Conceição Veloso entre pragmatismo e patriotismo. In Pataca, Ermelinda Moutinho e Luna, Fernando José (orgs.), Frei Veloso e a Tipografia do Arco do Cego. São Paulo: EDUSP, 375-388.
Silva, Andrée Mansuy-Diniz Silva, 2002-2006. Portrait d’un homme d’État: D. Rodrigo de Souza Coutinho, Comte de Linhares, 1755-1812. Paris: Centre Culturel Calouste Gulbenkian, Vols. I e II.
Veloso, Fr. José Mariano da Conceição, 1798a. O Fazendeiro do Brasil [cultivador] melhorado na economia rural dos géneros já cultivados e de outros, que se podem introduzir; e nas fábricas, que lhe são próprias, segundo o melhor que se tem escrito a este assunto (…). Lisboa: Régia Oficina Tipográfica, Vol. I.
Veloso, Fr. José Mariano da Conceição, 1798b. Alografia dos alcalis fixos vegetal ou potassa, mineral ou soda, e dos seus nitratos, segundo as melhores memórias estrangeiras. Lisboa: Oficina de Simão Tadeu Ferreira.
Veraldo, Ivana, 2005. O comércio de impressos na capitania de São Paulo (1797-1802): uma estratégia civilizadora e educativa. Revista HISTEDBR On-line (Campinas), nº.18, 10-18.
Villalta, Luiz Carlos, 2019. A Casa do Arco do Cego: política editorial régia, censura e disputas. In Pataca, Ermelinda Moutinho e Luna, Fernando José (orgs.), Frei Veloso e a Tipografia do Arco do Cego. São Paulo: EDUSP, 47-102.
Wegner, Robert, 2004. Livros do Arco do Cego no Brasil colonial. História, Ciências, Saúde: Manguinhos, vol. 11, supl. 1, 131-140.
Downloads
Publicado
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2025 Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro

Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution-NonCommercial-NoDerivatives 4.0 International License.
Os textos da Revista do IHGB são publicados sob uma licença Creative Commons BY-NC-ND, ou seja, é permitindo o acesso gratuito e imediato ao trabalho e permitindo ao usuário a ler, baixar, distribuir, imprimir, buscar, ou criar links para o texto completo dos artigos (acesso aberto). Reusos dos textos, como citações ou republicações devem mencionar a autoria dos mesmos, mencionar que a publicação foi realizada na Revista do IHGB e não podem ser utilizados com fins comerciais e/ou sofrerem adaptações sem expressa autorização do Editor-chefe da Revista do IHGB e/ou a Diretoria do IHGB.